segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Sobre a chuva e os vícios.

Vai chover de novo,
deu na tv que o povo já se cansou de tanto o céu desabar,
E pede a um santo daqui que reza a ajuda de Deus,
mas nada pode fazer se a chuva quer é trazer você pra mim,

Vem cá que tá me dando uma vontade de chorar,
Não faz assim, não vá pra lá, meu coração vai se entregar à tempestade

(Santa Chuva ¿ Los Hermanos)


Dia nublado e essa bendita TPM que apareceu só pra cutucar os meus demônios.
Srta. Insegurança.
Sr. Pessimismo.
Pra que personifica-los? Mania, também. Emendo chamando-os de mocinho e assim - a quem faz parte da minha rotina - fica o sarcasmo, as secas abstinências de comentários e os ¿não¿ afirmativos com som de mista negação e indagação.

I´m only happy when it rains
I´m only happy when it´s complicated


Não!

Tento me convencer de que não é isso. Mas esse pessimismo maldito me parece um vício. Sim. Um vício do qual não consigo me livrar a longo prazo. Passo dias, semanas radiante, mas basta um dia chuvoso pra me jogar de novo àquele breu.
E não há motivos. E se há, são eles simplórios e insignificantes. Mas isto é o vício. Uma coisa que fica quieta, dentro da gente, esperando a menor brecha para se libertar. Creio que por um instante tolo novamente lhe imaginei escapando por entre os meus dedos e isso foi o empurrão que me separava do abismo.

****

Dia das Bruxas. Lembro-me dessa data, um ano atrás. Naquela época me encontrava ainda estática por aquela tão nova liberdade. Tão aérea que nem pude imaginar que daí a cinco dias o mundinho no qual eu vinha me aprisionando cairia.
E, sinto-me cruel ao concluir, ainda bem que tudo desabou e eu pude voltar.
Sexta estive vendo algumas fotos do show do Los Hermanos e ao reconhecer pessoas de ELM senti algo estranho que no instante em que veio chamei de Saudade daquela época. Depois, pensando melhor, descobri que na realidade era ¿Saudade de sentir saudades daquela época.¿
Às vezes achamos que não somos capazes, por mais que haja a obrigação, de superar certas coisas.
Enquanto eu tentava esquecer o Cefet eu me via um ano depois daquilo como uma pessoa triste e saudosa. Era como se houvesse essa obrigação: manter-se triste e saudosa, prender-se àquela época. Mas não houve, não há.
O quase um ano que passei lá (Que no meu tempo psicológico ocupa quase um século) me mostraram algumas prioridades da vida, seja lá onde eu estiver. Vão-se os anéis e ficam os dedos.

****

E aqui estou eu, jogada a um canto do meu quarto, trôpega. Sem querer ponderando sobre como seria horrível se estes demônios estivessem certos.

Mas não estão.

Vê? Estou ficando sóbria de novo.
Já posso me levantar e tentar um sorriso livre do desespero.
Minto. Não posso sorrir assim ainda. Resta um embargo no peito. Uma quase infantil vontade de chorar. Chorar por medo. Por um medo vil que é um vício alimentar.

Hoje, parada à porta daquela sala com a letra da nossa música na mão, senti com um ímpeto Pequeno Príncipe de colocar também a minha flor numa redoma de vidro para protegê-la Não dos tigres, mas das correntes de ar.
Tolice a minha.

Sobre deixar de ser tola? Tenho tentado, mas às vezes tenho recaídas. E enquanto não obtenho sucesso definitivo nessa peleja, por favor, Vem cá que me tá me dando uma vontade de chorar.



E talvez eu pudesse chamar o dia de hoje não de Dia das Bruxas, mas de Dia da Tola Julia.
E antes que isso aconteça: Alguém me empresta uma vassoura voadora ou me ensina a aparatar?

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