domingo, 15 de junho de 2008

Ontem desenterrei registros em sites de Penpal. Afinal a melhor maneira de aprender uma nova língua é se forçar a usa-la. Depois de muitos perfis abandonados larguei a empreitada e danei a pensar. Vivemos, fingimos existir e tudo o que resta é lixo.
Seguindo a linha, lembrei da história do lixo espacial publicada no jornal cerca de um mês e meio atrás. O que fazer com tanta coisa inutilizada lá fora? Findei a empreitada do Penpal italiano pensando na quantidade de perfis em sites de relacionamento, blogs, fotologs, e-mails, icqs e msns abandonados que populam a rede.
Quem foram todas aquelas pessoas? Quantas eram reais? Quantas fingiam ser? Quantos diziam a verdade?
Pensei então na minha adolescência não tão distante. No meu eu internauta de quinze anos de idade, como bom nascido no final da década de oitenta. Fiz o que tinha que fazer e existi como informação. E o que resta agora? FanFictions publicadas que, absurdamente, até hoje prevalecem em primeiro lugar; posts mal escritos, publicados neste mesmo blog; comentários insolentes, inconseqüentes e imaturos em fóruns de discussão. Teorias, teorias, teorias. O que diz todo esse lixo deixado pra trás acerca de mim? Diz, todo o lixo com que esbarramos diariamente na internet, alguma coisa a respeito de alguém?
É uma problemática similar à proposta por Carl Sagan em Contato. E se, anos e anos luz longe daqui, algum tipo de vida inteligente, até então não comunicante, encontrar um vestígio deste mundo de informação... então todo o lixo virtual, afinal, é a melhor descrição possível da humanidade.
Tenho pra mim que quando se pensa em alguma coisa não pensada há muito tempo, é hora olhar para trás e começar um balanço. É algo como sentir saudades aleatórias de alguém e informa-lo disso. Me informaram, e foi a minha vez de passar para frente. Fui transmiti-las, as saudades aleatórias, e divagar sobre as madrugadas. Sempre como levar um tapa na cara o saber que algo foi mais para alguém do que você imaginava. Descobrir que se deve mais passados que se pode calcular. Pensar em tudo o que deveria ter sido vivido e não foi. Quão cedo e quão tarde pode ser a vida? Quantas viagens podem ainda ser feitas? Quantos bits merecem ser convertidos em carne e osso? Quantos beijos sonhados, roubados, pagos?
O tal do endereço continua anotado, na primeira página de um caderninho. Poderia mesmo alguém reconhecer-te numa construção?
Essa coisa toda de estar só me faz pensar em mim mesma. É bom lembrar sobre tudo aquilo que só pode ser encontrado em si. É bom certificar-se que continua tudo ali.
E isso tudo sempre me remete à Los Hermanos. Sinto-me uma verdadeira Casa Pré-Fabricada com um Retrato Pra Iaiá na parede.