quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Não me lembro quando foi que começou. Só sei que desde que me entendo por gente vivo em meio a personagens. No começo eram os meus amigos invisíveis. Que viraram fruto dos meus sonhos. E posteriormente habitantes dos meus devaneios.
O fato é que estão todos sempre por aqui. E é curioso pois todos eles tem rosto, lenço, documento. É como se tivesse vida própria. Uma vida criada, moldada e limitada única e exclusivamente por mim. E assim eu tenho um mundo incrível todo em minhas mãos. Um mundo em que só depende de mim a felicidade de todos aqueles a que eu passo horas observando.
E agora todos me olham, todos me assistem pois parece que eu finalmente cruzei a linha. Eu passei dos limites, passei do meu limite.
E com isso eu percebi que os amores da minha vida não são como os meus personagens. E que não basta eu colocar-lhes o óbvio na cabeça e então eles trilharão um caminho menos dolorosos para todos. Os amores da minha vida não são como os meus personagens. Pois não basta dar-lhes o melhor que há de mim. E eu grito com eles. E eu digo que esse não é o melhor caminho das pedras. E eu aceno, eu me pareço muito frenética e desesperada agora. Eu pareço exatamente com o que eu evito ser. Eu pareço definitivamente ter perdido o controle.

Que digno fim de festa aquele. Nós sentados na calçada, eu desolada, murmurando um poema qualquer.
¿E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou...¿
E eu disse que se pudesse eu morreria.
E ela retrucou: ¿...você não morre, você é duro!¿
E ela agora me arrasta em frente. Pois é o que se há a fazer. E nós sabemos disso. Mas ela sabe melhor que ninguém, pois quem unicamente no mundo é mais sentimental que eu? Ela é.

E essa noite eu não dormi. Minha mãe tossia muito, maldita gripe. Mas se ela não tossisse, eu não dormiria da mesma forma. Seria indigno dormir. Eu permaneci deitada, estática. E eu só me levantei para arrancar aquela foto do meu quadro. Pois eu não poderia olhar pra¿gente, não essa noite.

E eu nunca vi ninguém chorar daquela maneira. E o meu sobressalto foi imenso, pois eu nunca te vejo chorar. E você chorava como se dessa forma o mundo fosse acabar, em lágrimas. E eu sentia você no meu ombro. E você tremia. E por momentos eu pensava que os meus joelhos cederiam, e que nós desmoronaríamos ao chão como tudo mais desmoronou ontem a noite. E eu nunca vi ninguém chorar assim. Sobretudo, eu não estava acostumada a te ver chorar. Não na daquela forma explícita.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Eu gostaria de me sentir menos vazia por um espaço de tempo um pouco maior que este.
Eu gostaria que as entrelinhas não me estapeassem o rosto tentando me convencer daquilo que eu já estou cansada de saber.
Esse racionalismo com que às vezes eu tento viver é por demais utópico.
Eu tenho me guiar pelo meu cérebro. Eu tento seguir pelo caminho que parece mais calmo e sereno. Mas há uma coisa que me puxa pra trás. Que me puxa pra baixo.
E eu já não posso controlar o que eu sinto. Eu já não sei direito o que é razão.
Eu olho pra todos os lados e por todos, eu estou cercada de pessoas. Elas não só me cercam. Elas me tocam. Elas me olham. Elas me tentam. Algumas sorriem. Mas nenhuma delas parece disposta a me impedir de continuar caindo.
E elas não falam comigo. Me deixam as entrelinhas. As entrelinhas. E eu me pergunto: porque me importo? São só pessoas. Mas são só pessoas. E elas me deixam cair. Todas elas. Sem saber. E eu caio. E caio. E não sei até quando. Só sei que caio.
E eu já me cansei de tentar criar novas asas. Porque nada parece funcionar como deveria.
Tudo está quebrado.
Eu estou...