Acha que sofrer é amar
demais e por seu engano sou eu quem sofre a mais.
Está sempre a dizer
que tem certeza das coisas,
e me recita discursos
ensaiados defronte ao espelho.
Discursos de camaleão
recheados de certezas de areia.
Areia movediça.
Nela me afogo e nela
ela se afoga;
enquanto me debato,
tento puxá-la pra superfície;
enquanto se debate, ela
me puxa para baixo.
Chego a me perguntar
onde é o fundo,
ensaiando no fundo
encontrar um fim.
Nunca amei ninguém ao
ponto de alcançar o fundo.
Nunca amei ninguém ao
ponto de querer que o fundo chegasse logo.
Nunca amei ninguém ao
ponto de doer – tanto – antes.
Nunca amei ninguém tão
barroco.
*
Tenho um subconsciente
de olhos não-míopes que a enxergou antes de mim.
Transitava pelos mesmos
corredores, vivendo à sombra do mesmo mundo.
Enquanto na dimensão
ao lado, feito em dança num salão,
nossas sombras já se
reconheciam,
estendi minha mão para
alcança-la na dimensão que me cabia,
pela simples e curiosa
razão de não haver por que não fazê-lo.
Era tão certa e tão
bela, que faltou-me fibra aos joelhos para correr
quando ela se desfez-se em
milhões de pedaços feito vidro temperado.
Como uma criança ao se
ver perdida na cena de um crime,
tentei juntar os cacos
e restituir sua beleza,
cortei os dedos, e ao
tentar suturá-los
embolei-me até os
cabelos em uma linha de remendar falácias.
Pago o preço por
esperar sozinha no escuro por mais tempo que adequado,
Pois uma vez que se
ouve um passo e falta ar - a entropia aumenta - não há caminho de
volta.
*
Desafio minha razão só
pelo sabor que tem
o quase provar a si
mesmo que se está errado,
mesmo sabendo que se
está certo.
Tenho andado pelo mundo
me transformando em flores,
jogando meu coração
ao vento só pra ver se existe alguém capaz de pega-lo.
Mas meu coração se
tornou tão arisco quanto o gostar dela por mim;
E se faço bússola do
meu coração, o coração dela é ímã
A levar-me de volta à
dor que reside em tê-la em meu braços
Sob a premissa de vê-la
refazer seus velhos discursos de areia na manhã que virá.
“Se existem forças
que não podem ser paradas,
não podem existir
coisas que não possam ser movidas.” - Grita
meu inconsciente
melodiosamente como quem repete um mantra
para preencher as horas
que faltam pro ano terminar.
Espero que a vida a
ensine a partir, para eu então ensina-la a ficar.