tag:blogger.com,1999:blog-49157758808218431152024-03-13T15:10:23.175-07:00InfocatoJulia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.comBlogger151125tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-28583939421551788012018-06-14T19:16:00.001-07:002018-06-14T19:29:24.970-07:00Conheci uma represa que era uma mulher. Um monumento de concreto, desses forjados pelo homem. Recalcadamente humana: Uma imensidão homérica de beleza em formato líquido, engenhosamente fortificada por uma barreira de concreto impecável. Lhe fizeram barragem. Não para que vivesse a sonhar em se fazer rio, mas pra que passasse a vida a girar turbinas hidráulicas, permitindo, assim, em langoroso tons de cinza, que as vidas daqueles demasiadamente civilizados seguissem em normatividade. Feito um destino biológico, humanamente determinado.<br />
<br />
Mesmo sem acreditar muito em destinos, talvez pelo seu fadário de represa escrito em seus muros de concreto - assim, em letras garrafais e de imprensa - nunca lhe cantei 'I follow rivers’, já que nunca foi história nossa a premissa de fluir em rio.<br />
<br />
Eu, que por esses tempos envelheço, já não sou mais rio. Sou fera fêmea e feita, que corre o mundo cheia de petulância e um bom punhado de sonhos impolutos. Eu, que já me cansei do salgado do mar ao fim do rio e dos olhos de Capitu: Eu já não sigo mais rios. Retirante, eu sigo montanhas e abraço transcendentalmente o sentimento de que somente entre os altos e baixos de uma tão acidentada formação rochosa é que existe paz. Não existe nesse mundo fé que mova montanhas, e fatídica assim ela se ergue imóvel rumo a estratosfera, a me dar norte e me lembrar a direção de casa. <br />
<br />
De quando em quando, eu deixo as montanhas. Sou bicho sazonal com sede de vagar o mundo. Na vulgaridade do meu andejar vagabundo, sou criatura de hábitos: sempre que topo de novo com a vegetação do cerrado, faço uma curva e vou lá prostrar-me ao pé da represa só pra checar se ela continua lá. Continua. E às vezes - quando coincide da lua clarear o redor - lhe flagro as rachaduras brilhando com filetes de água a lhe escapar. Às vezes pondero se no seu continuado rachar e vazar, um dia rebenta a represa: implodindo-se numa magnifica inundação. Talvez um dia, ao cruzar essa latitude eu encontre em seu lugar um caudaloso rio com sua própria fauna e vegetação. Talvez eu morresse afogada no processo, por estar perto demais durante o rompimento. Divago. Ao pé das imensas paredes de concreto da represa, me deixo hipnotizar momentaneamente pela sensação úmida das gotas fluídas espremidamente através da rachadura. Parece uma lágrima. <br />
<br />
Faço isso e depois volto pra casa.<br />
<br />
Eu, que nesses dias coleciono memórias e postais de cenas pífias, registrados em preto e branco - como deu - mas que coloro com materiais corantes e emplastos de todas as cores que teimosamente meti nos bolsos por todo caminho até aqui. Eu, que por esses tempos carrego no peito um coração de remendos, que de tanto espatifo, acabou cabendo o mundo. Eu, que ainda irremediavelmente eu: fui encontrar no respingo de água vazando da represa rachada, remédio pra ferrugem de escrever.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-31391168334045772112015-04-08T14:41:00.002-07:002015-04-08T14:58:44.237-07:00Bobajada Shakesperiana Pretensiosa Quem sou eu?<br />
Eu já nem sei quantas horas da minha vida gastei girando em torno dessa questão. É como um vórtice de pensamento. Eu sempre gostei deles, dos vórtices, pois eles ocupam um tanto de tempo e sempre deixam a sensação de que o tempo gasto com nada foi produtivo. É um jeito de enganar a si mesmo. E eu entendo do que estou falando: Eu sou um tipo de às da auto-enganação.<br />
<br />
Isso responde satisfatoriamente a pergunta inicial? Acho que não. Quero dizer, isso depende. Você aprendeu a se contentar com qualquer coisa? Não? Tudo bem, então me dê uma história. Uma que pareça interessante, daquelas que dariam um romance desses de auto-biografia. Pronto, agora eu vou tentar vivê-lo, e se parecer que valeu a pena eu volto pra escrever a história depois. <br />
Onze anos se passaram e eu não escrevi nada. Isso quer dizer que nada valeu a pena, certo? Acontece que eu nem saberia explicar o que significa valer a pena, pra começarmos a nossa conversação. Então, eis a história da minha vida: Eu era uma garota, que não era como as outras garotas. Ao mesmo tempo eu era exatamente como outra pessoa qualquer no mundo: <br />
indomável na essência.<br />
egocêntrico na essência.<br />
Mal educada na essência. <br />
sozinha como essência. <br />
Não posso negar que houve tentativa de educação. Tentaram me ensinar um tanto de coisa. Desde crochê até palavrões. Só que as coisas sempre entraram meio rasgadas e sem graça. Eu sempre tive esse dom pra histórias, sabe? Então toda essa bobagem de ensinamento moral que tentam enfiar goela abaixo quando a gente é criança, isso tudo descia rasgando, meio sem cor. Eu pegava tudo, vomitava no chão e construía uma nova versão mais colorida dentro da minha cabeça, uma mais interessante, que meu imaginário acharia melhor de ler em um romance. Por muito tempo ninguém me disse que eu não podia fazer isso. Assim, se me entregavam um mundo em tons de cinza, eu tinha uma coleção imaginária de lápis de cor,e não fazia sentido não usá-los. Por que não colorir tudo de um jeito melhor pra mim? Ora, por que se você o fizer, vão trocar o livro das regras em cinza pro livro das regras em cores imaginárias. Esse é o jeito que o mundo funciona, Julia. O mundo é só um lugar de gente falando com propriedade do que não conhece, e ele funciona assim girando, uma volta por dia.<br />
<br />
Lidar com o mundo? Ah! Então eu lidava. Quem sou eu? Uma pessoa que lida com a vida. E na vida, tudo é um jogo. Tudo sempre foi um jogo. E se chamar de <i>jogo</i> não é sério e suficiente pra você, eu posso mudar a expressão para agradá-lo: A vida, em nossa sociedade, é composta de uma série de procedimentos feitos pra manter a sua cabeça <i>limpa</i> o suficiente pra você não olhar pra onde não deve (na maior parte do tempo: pra dentro). E eu não queria olhar para os meus demônios. Pelos relances que tive deles, em momentos de extrema auto-honestidade acidental ao longo desses anos, eu sei que se o fizer nunca mais serei capaz de ler um mundo como é descrito nos manuais. <br />
<br />
Como exercício de elucidação eu posso te ensinar como seguir algum desses procedimentos (ou jogos) de viver a vida do manual. Você pode passar horas e horas, jogando sudoku ou estudando física, por exemplo, só pra ocupar a cabeça e fingir que é capaz de viver sem respostas (perguntas). Porém, se você erra no equilíbrio, a sociedade vai te dar uma paulada de cassetete pra te lembrar que (como você é um covarde) você ainda está vivendo entre os pilares da moral e dos bons costumes. Por isso, se você erra na medida e, digamos, passa o dia inteiro jogando sudoku, a sua cabeça se distrai, mas as suas notas em física vão cair e você vai se perguntar “por que eu fiz essas escolhas mesmo?”. Por outro lado, se você passa o dia inteiro estudando física, as suas notas vão ir muito bem, mas eventualmente você não vai ficar sabendo que a sua última banda favorita lançou um novo CD, e você vai voltar ao ponto: “Por que fiz essas escolhas? “. A Regra Zero do jogo é balancear as coisas. E daí vem toda a bobagem da vida como ela é: (E quanta bobagem!) Como: Cresça, seja alguém. Vá para a faculdade, arrume um emprego, pratique um esporte, escolha uma banda favorita, vá ao cinema, não beba tanto, vote com consciência, se envolva em trabalho comunitário, recicle, encontre sua tribo, entenda o seu lugar no mundo, seja alguém. Reúna os seus iguais, <i>cuide</i> dos seus iguais, arranje um companheiro(a), constitua família. Nunca olhe pra trás (dentro). Entendeu? Sim? Agora volte ao início do jogo, e é a sua vez no comando: eduque (aliene). Mas faça diferente: não seja como os outros, você não quer que seus filhos sejam só mais pessoas no mundo. Eles são diferentes. Foi exatamente isso o que eu seus pais disseram? "Você é diferente, mas você poderia parecer mais normal, sabe?" Funcionou até aqui, não? Repita. O mundo ia ser melhor se você não <i>tentasse</i> parecer tão diferente. Que se danem! Eles nem sabem o que é o mundo, pra começo de conversa.<br />
<br />
O mundo é um conjunto de círculos, definidos a partir de um único ponto. Existem círculos internos e externos. Guerras começam e pessoas morrem dependendo de qual círculo do outro você tentar ultrapassar com o seu ponto central. Existe o círculo que define como o mundo te vê e outro mais externo que define como você quer que o mundo te veja. Existem círculos que ninguém além de você nunca verá nem a cor (e que você pode passar a vida fingindo não ver). E existe um círculo, o mais interno de todos, dentro do qual habitam você e os seus demônios. Sim, são muitos círculos para uma única existência. Você provavelmente vai querer passar a vida toda distraída com os mais externos: é a forma mais trivial de evitar ficar sozinho com os seus demônios. <br />
<br />
E quem sou eu? Uma pessoa que vive dentro dos seus círculos sempre fazendo um velho acordo comigo mesma: ainda é cedo pra começar a conversar com seus demônios, Julia (e se eles te convencerem a ficar?). Você gosta deles e você se sente estranha por isso. (Estranha por que você gosta, e o mundo pensa que você deveria evitá-los.) Quantas vezes já não estivemos aqui?<br />
Você esteve lá, desde o princípio. No círculo, com eles. E você viu a verdade. Não importa quem você é. Você conhece a sua inteligência. Você sabe que não adianta deixar tudo às traças, que o mínimo esforço descuidado põe todas as engrenagens a funcionar e assim você poderia ser o que quisesse: uma bióloga, uma engenheira, uma médica, uma mãe de família. Você poderia escolhido a roupagem que quisesse, e até mesmo ter vivido o resto da vida com o cabelo pintado de azul. Mas você escolheu a física, por que a física é estereotipada como a beira do precipício. E você gosta de viver lá, na solitude da beira do precipício. Você só queria uma desculpa, uma disfarce. <br />
<br />
Quem sou eu?<br />
Ora, eu sou um grande clichê! Uma moça bonitinha dividida entre o ser e o não ser. Uma moça que andou e andou em círculos e agora está aqui, vivendo sozinha num estúdio de 24 metros quadrados no charmoso centro de uma simpática cidade cercada de monumentais montanhas do velho continente. E é tudo muito poético e muito caricato. E ela sempre curtiu "caricato". E ela está aqui, e não entende a língua deles e nem eles entendem a dela. E ela está só, dentro dessas paredes. Ela está só daquela maneira que sempre temeu. Ela está só daquela forma que sempre evitou estar. E ela gosta disso. Ela gosta, por que ela se olha no espelho ela vê todos os demônios claramente dentro de si. E ela gosta deles e de suas cores, e do seu fulgurar. E ela gosta de ser ela mesma dessa forma tosca e crua. Ela gosta das cores distorcidas que o mundo tem, vistas de dentro do seu próprio círculo. E ela lembra de todas as suas tentativas de abafar seus demônios por detrás de uma muralha de estabilidade. Ela gosta, por que esse momento de solitude é o único em que ela não deve nada a ninguém. Ela gosta de poder fazer o que quiser: seja o que se quer passar o dia inteiro de pijamas, beijar todo mundo que ela ver pela frente, ou só dançar de forma esquisita no meio da tarde em torno daquele círculo que é só seu. <br />
<br />
O que você quer ser quando crescer? Você queria <i>querer</i> ser normal e seguir o manual que tanto leu. Mas você já cruzou aquela linha no sentido ao contrário do exterior. Isso foi a muito tempo atrás. E você têm passado todo esse tempo fingindo não ter dado o ponta pé inicial. Adiando. Adiando. Sabe?, não tem mais volta. não importa o quanto você adie. Você já é livre. Agora ria sozinha, dance com seus demônios e então escreva, Julia, escreva. Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-44239662837586846772014-09-27T11:56:00.001-07:002014-09-27T11:56:16.728-07:00Textos Perdidos em Gavetas...Sou planeta errante.<br />
Terroso.<br />
Nem tão pequeno que não exista atmosfera,<br />
nem tão grande que eu seja gasoso.<br />
Médio.<br />
Mediano.<br />
Meio azulado.<br />
Meio verde. <br />
Cheio de gente.<br />
Gente que é morte.<br />
Gente que é vida.<br />
Estou em inércia,<br />
à espera de força que me mova.<br />
<br />
(Belo Horizonte, 08/11/2013)Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-6035271182715016342013-10-23T22:38:00.000-07:002013-10-23T22:45:51.451-07:00Sobre muralhas e portas de madeira<style type="text/css">P { margin-bottom: 0.08in; }</style>
<br />
<div style="margin-bottom: 0in;">
Como toda boa moça, teve lá o seu primeiro amor
daqueles cor-de-rosa. Como desde sempre foi peculiar, o seu foi
vermelho. Vermelho escarlate, como as unhas pintadas e o adidas no
pé. Pra mãe, coitada, pior que a filha encontrar uma barriga no
meio da adolescência, só a filha achar a chave vermelha da porta de
madeira na saída da escola. Um escarcéu e o escambau. A menina,
transformada em Julieta e achando que ia morrer, construiu uma
muralha em torno do próprio coração e foi dar um jeito de virar
adulta. <br />
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Fez toda birra que pôde só pra provar
tim tim por tim tim as contradições da mãe; pra se fazer aceita, é
claro (já que o que toda boa moça mais quer na vida – mesmo as
mais peculiares – é a aprovação da mãe), e se afirmar como
adulto. Tirou nota boa, arrumou o quarto, passou no vestibular,
manteve o cabelo bem cortado, a cara limpa, a cama alinhada, os
livros em ordem alfabética, os vizinhos sem barulho depois das vinte
e duas. Arrumou até uma princesa, dessas nascidas pra comprazer pais
e mães. <br />
<br />
Um belo dia acordou e era adulta e não havia nada
que se pudesse fazer. Era adulta, e feliz por ser adulta lá no
centro de sua muralha. Só tinha um problema: agora que era adulta,
se sentia só (mesmo com a princesa). Sentia-se tão só quanto
somente os adultos que construíram muralhas em torno de seus
corações ao final da adolescência são capazes de se sentir.
Sentia-se só e só.<br />
<br />
Sentia-se tão só que foi fazer o que
todos os adultos solitários fazem: descobriu a noite; fez-se boêmia;
aprendeu que podia gostar de carnaval, mesmo sambando torto; criou
amores imaginários (até amou alguns deles); descobriu a luxúria;
aprendeu letras de músicas, a cozinhar e a manter os amigos por
perto (é só colocar todo mundo alinhado à muralha e sempre
oferecer boa comida através de uma portinhola que funciona); trocou
cartas com muralhas vizinhas; sequestrou Rapunzels pra enfeitar a
torre mais alta com suas tranças; até falou com o pessoal lá fora:
“se vocês correrem em um sentido, e eu correr rápido o suficiente
pro outro, a muralha some!” Some nada. Fica lá inerte e segue a
moça onde for. <br />
<br />
No meio de uma dessas incursões pela noite
Belo Horizontina, entre um amor imaginário e uma Rapunzel, foi topar
com outra moça torta, dessas provavelmente concebidas na noite de
comemorações da queda do Muro de Berlim; a qual,nascida, depois que a
década virou, com uma noção distorcida do significado de muralhas,
muros e coisas feitas do tijolo, trouxe consigo pra noite um enorme
peixe daqueles vermelhos que vivem no centro da Terra. De tão grande
que era, enquanto as moças se olhavam, o peixe trombou com o chão
tão forte que a muralha até rachou. <br />
<br />
Sabe aquele raciocínio
de criança? 'Se for brincar de bola nos fundos da casa, ninguém vai
perceber que fui eu quem quebrou o vaso chinês na varanda da
frente.' Ora, a muralha é espaçosa (é preciso espaço para se
sentir só), é só correr na outra direção e o que os olhos não
veem, o coração não sente. <br />
<br />
Não sente, mas as noites e
noites caçando fantasmas são sintomáticas. E quando de noite, se
tranca no escuro do quarto e vai dormir, no fundo, sonha com o dia de
experimentar de novo a sensação daquele mesmo peixe vermelho
trombando contra a Terra e rachando a muralha; noite após noite, até que um dia os
tijolos esfacelem e ela se sinta menos só.</div>
Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-66060490014744966612013-05-14T21:14:00.000-07:002013-05-14T21:17:54.146-07:00Quanto vale uma década em um blog em desuso?<style type="text/css">P { margin-bottom: 0.08in; }</style>
<br />
<div style="margin-bottom: 0in;">
Quase dez anos atrás dei a este blog o
seu primeiro texto.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Estressada como ando, resolvi relê-lo,
o primeiro texto, como se isso pudesse servir de ritual pra novamente
guinar minha vida.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Tinha, ao escrever tal texto, meus
quinze anos e sofria com o excesso de tempo livre enquanto esperava o
começo do meu primeiro ano de ensino médio. Decidi escrever por
estar perdida em pensamentos e sentir a necessidade de gritá-los
todos ao mundo, afim de espantar a angústia que deixavam em mim.
Extrapolando para o mundo das lembranças, pensava em ser uma
engenheira quando crescesse, e uma escritora nas horas vagas mas ainda havia muito tempo vago ate la. </div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Uma década, três diplomas, dez quilos
e três graus de miopia depois, cá estou perdida em pensamentos
e sofrendo com a falta de tempo, enquanto tento me encaixar em meu
primeiro ano de doutorado.</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Cumprido o ritual, fica a pergunta:
quanto vale uma década na vida de uma jovem mulher de princípio do
século XXI feito, inevitavelmente, eu?
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Antes de reler tal texto, minha
primeira resposta seria 'vale uma insônia', mas ao que minha memória
falhou e o texto serviu pra lembrar, já existia a insônia naquele
tempo.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale um bocado de coisas triviais:</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale transformar-se de uma menina de 15
anos em uma mulher de 24 (e trocar a cara de menina de 13 anos pela
cara de menina de 16).</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale a consolidação de uma identidade
de gênero e a construção de uma intrincada orientação sexual.
Vale a obrigação de votar em 4 eleições e trabalhar de mesária
em duas. Vale a constatação de que não importa se deus existe ou
não, isso não faz diferença em minha vida (e apesar disso
experimentar um crescente receio quanto aos movimentos evangélicos
do país).
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale assistir quase todos os amigos de
infância sumirem no mundo e me perguntar quando foi que os poucos
com que se mantêm um esparso contato online se tornaram idiotas tao
grandes.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale sair da posição de filho que
ouve a mãe dizer “você devia passar menos tempo nessa internet”
para a posição da filha que diz “Mãe, você devia passar menos
tempo nessa internet”.</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale perceber que não importa quantas
vezes repetimos durante a adolescência que não seremos como nossos
pais, seremos inevitavelmente versões modernas deles ao crescer.</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale assistir a irma que vi nascer se
tornar uma mulher.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale a crescente vontade de ser mãe e
a desconstrução da tradicional família mineira.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale um coração partido uma porção
de vezes (e ter partido alguns) e uma meia dúzia de amores pra
recordar.</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale aprender a gostar de carnaval e a
gostar de dançar (apesar de não ter aprendido propriamente
fazê-lo).</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale aprender a gostar de cerveja e
continuar sem nunca ter fumado maconha.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale uns 600 filmes assistidos e 7
países visitados.</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale (ter que) aprender inglês, e
começar a ler tudo o que se pode em inglês ate que a cabeça comece
a pensar <i>em inglês</i> (e a ortografia em português
comece a atrofiar).</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale algumas cicatrizes, 8 pontos (5 na
sobrancelha esquerda e 3 no polegar esquerdo) e 4 dentes (siso) a
menos.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale cansar de ouvir metal e passar
gostar mais de música de duas ou três décadas atrás do que de
música contemporânea.</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale olhar pros próprios pés e
assistir os all-stares gradativamente se transformarem em oxfords; e
as camisetas, em camisas de botão.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale perder e recuperar a fé na
humanidade mais de três mil vezes e assim aprender a viver um dia
após o outro da melhor maneira possível; e descobrir o ritmo que a
vida moderna exige, e algumas vezes se distrair e exceder o limite de
velocidade; e então se esquecer por uns dias como se vive um dia
após o outro e, assim, achar que o mundo vai acabar.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale esquecer biologia, geopolítica,
história (e tantas outras coisas que nos ensinam antes de estarmos
prontos para a vida adulta) pra sobrar espaço na memória pra mais e
mais física e, apesar de ter obtido um bacharelado e um mestrado no
assunto, ainda ter a sensação de que a física que sei 'e muito
pouco.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Vale assistir a engenheira e escritora
que eu seria quando crescesse ficando pra trás em meio a poeira e a
mulher cientista brotar em terreno tao insólito em algumas estações.
</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Quase uma década depois daquele
primeiro texto, encontro-me novamente perturbada por esse quarto com
poeira a se acumular nos cantos. Quarto, este, que 'e bem menor que o
de outrora, não por agora ser parte de um reduzido apartamento
próximo `a universidade, mas pelo tamanho que me tornei e pelo
volume ocupado pelos meus pensamentos; pensamentos que flutuam numa
turbulenta atmosfera constituída de algumas boas ideias, alguns
fantasmas e, sobretudo, caos. Sinto-me como um náufrago que
experimentou a sensação de quase se afogar na correnteza e, após
<i>de fato</i> se afogar, percebeu que nada muda depois
que os pulmões terminam de encher-se de água. A vida apensar
continua com o seu um dia após o outro. <i>The show must go
on</i>.</div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0in;">
Volto-me novamente a este blog como uma
tentativa de organizar meus pensamentos, truncá-los, pô-los em
ordem, aceitá-los, colori-los e assim recuperar a minha capacidade
cognitiva e a minha licença poética.
</div>
Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-848379597621495162012-12-28T18:50:00.001-08:002012-12-28T20:08:07.682-08:00Soneto torto e sem métrica de amor do ano velho<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Acha que sofrer é amar
demais e por seu engano sou eu quem sofre a mais.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Está sempre a dizer
que tem certeza das coisas,
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
e me recita discursos
ensaiados defronte ao espelho.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Discursos de camaleão
recheados de certezas de areia.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Areia movediça.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Nela me afogo e nela
ela se afoga;
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
enquanto me debato,
tento puxá-la pra superfície;
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
enquanto se debate, ela
me puxa para baixo.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Chego a me perguntar
onde é o fundo,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
ensaiando no fundo
encontrar um fim.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Nunca amei ninguém ao
ponto de alcançar o fundo.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Nunca amei ninguém ao
ponto de querer que o fundo chegasse logo.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Nunca amei ninguém ao
ponto de doer – tanto – antes.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Nunca amei ninguém tão
barroco.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
*</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Tenho um subconsciente
de olhos não-míopes que a enxergou antes de mim.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Transitava pelos mesmos
corredores, vivendo à sombra do mesmo mundo.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Enquanto na dimensão
ao lado, feito em dança num salão,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
nossas sombras já se
reconheciam,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
estendi minha mão para
alcança-la na dimensão que me cabia,
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
pela simples e curiosa
razão de não haver por que não fazê-lo.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Era tão certa e tão
bela, que faltou-me fibra aos joelhos para correr
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
quando ela se desfez-se em
milhões de pedaços feito vidro temperado.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Como uma criança ao se
ver perdida na cena de um crime,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
tentei juntar os cacos
e restituir sua beleza,
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
cortei os dedos, e ao
tentar suturá-los</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
embolei-me até os
cabelos em uma linha de remendar falácias.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Pago o preço por
esperar sozinha no escuro por mais tempo que adequado,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Pois uma vez que se
ouve um passo e falta ar - a entropia aumenta - não há caminho de
volta.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
*</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Desafio minha razão só
pelo sabor que tem
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
o quase provar a si
mesmo que se está errado,
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
mesmo sabendo que se
está certo.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Tenho andado pelo mundo
me transformando em flores,
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
jogando meu coração
ao vento só pra ver se existe alguém capaz de pega-lo.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Mas meu coração se
tornou tão arisco quanto o gostar dela por mim;</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
E se faço bússola do
meu coração, o coração dela é ímã
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A levar-me de volta à
dor que reside em tê-la em meu braços</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Sob a premissa de vê-la
refazer seus velhos discursos de areia na manhã que virá.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“Se existem forças
que não podem ser paradas,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
não podem existir
coisas que não possam ser movidas.” - Grita
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
meu inconsciente
melodiosamente como quem repete um mantra</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
para preencher as horas
que faltam pro ano terminar.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Espero que a vida a
ensine a partir, para eu então ensina-la a ficar.</div>
Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-50711804594068826182012-07-31T20:51:00.001-07:002012-12-28T17:28:59.196-08:00Dezesseis Anos DepoisDezesseis
anos atrás era o meu primeiro dia de aula depois das férias de meio de
ano da primeira série. Eu já sabia escrever e fazer cálculos mentais e
queria faltar o primeiro dia de aula pra ficar em casa brincando. Minha
mãe, grávida de oito meses e sempre impassível sobre esses assuntos de
"ir à aula como deve ser", disse que “não querer ir não era motivo pra
faltar”. Tive que ir.Na hora em que o sinal tocou e a Sônia foi me
buscar ao invés de minha mãe, tive a certeza: “Não era pra eu vir pra
aula!” <span class="messageBody" data-ft="{"type":3}"></span><br />
<div>
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">Era a Flavinha que, assim como eu, resolveu nascer uma quinzena antes e impediu minha mãe de ir me buscar.</span><br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">Passei o resto do dia elétrica de empolgação. Naquela época o hospital
era longe e quase ninguém tinha carro. Fui obrigada a me contentar com o
pensamento: “agora eu tenho uma irmã!”, e esperar o dia seguinte
chegar. </span><br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">No dia seguinte finalmente me deixaram matar aula. Me
levaram até a maternidade e colocaram aquele pacotinho de panos no meu
colo. Olhei pra ela, que tinha cara de joelho, um cabelo fino e pretinho
e nem sequer abria os olhos e pensei: “é isso?” Em resposta ela vomitou
em mim.Ora, não importava, ela era linda e era a “coisa” que eu mais
tinha desejado na vida até então.</span><br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">Na minha cabeça de criança,
eu ganhava um brinquedo que aprenderia a falar, andar, brigar comigo,
brincar comigo e tudo isso tinha chegado antes do natal! Eu tinha
ganhado uma irmãzinha que iria crescer e brincar comigo!</span><br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">O que eu não sabia era que naquele dia, tinha nascido a minha maior companheira e a pessoa que eu mais amaria nessa vida.</span><br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">Hoje ela faz dezesseis anos, já é quase maior que eu e como uma boa
irmã há dias em que me tira do sério, quase sempre por seu jeito tão à
beira de um ataque de nervos. (Ou quando perde média em física e diz que
a culpa é minha, e não dela ) Mas passa sempre um segundo e eu já
perdoei. E quase que diariamente ela fala na minha cabeça até os
meus ouvidos calejarem, me contas os seus problemas adolescentes, me
lembra de quão fácil era a vida antes de ser um adulto, fica irada toda
vez que acha que eu não dei importância suficiente pro caso do fulano,
amigo do beltrano que eu nunca vou nem conhecer. E aí de quando em
quando me mata de felicidade, sem nem saber. Por que eu olho pra ela,
vejo o jeitinho dela e morro de orgulho por ela ser tão jovem e já tão
Mulher com M maiúsculo em meio ao tanto de “futuras-mulherzinhas” que
essa geração 2000 produziu.</span><br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">Às vezes até trato ela dum jeito meio
mãe leoa, como minha mãe sempre me tratou, pois sinto que ela é também
um pedacinho de mim; um pedacinho de mim que deu certo e vingou. E ela
me olha de volta com uma cara que deve ser espelho da cara que fiz pra
ela quando vomitou em mim em seu primeiro dia de vida. Aquela cara de
irmão mais velho que diz: “Tá tudo bem, o mundo não vai acabar e, caso
acabe, estou aqui e te protejo”.</span><br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">Hoje faz 16 anos que ela existe no
mundo e, antes de desejar a ela um Feliz Aniversário, me vejo aqui
dizendo mais uma vez: “Ainda bem que ela existe!”</span><br />
<br />
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">Ainda bem!</span></div>
<br />
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</div>
Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-56168040926792699662012-05-07T18:26:00.000-07:002012-05-07T18:26:14.402-07:00Romances Ficam Velhos<style type="text/css">
<!--
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P { margin-bottom: 0.21cm }
P.western { so-language: pt-BR }
-->
</style>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Lembro do que disse
naquela manhã de quarta-feira de carnaval. Era sobre resolver
primeiro o que era velho, para só então arriscar-se a viver o novo.
Ai de mim, que o novo era tão límpido e parecia um pecado absurdo
deixá-lo enviesar-se em meio às coisas inconcluídas e insolúveis.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Lembro da sensação
que só o novo sabe causar: a quebra da rotina e a inclusão de novos
procedimentos tolos feito sempre olhar pro fim do corredor só pra
ocasionalmente sentir a gravidade parar de agir no estômago por
alguns segundos, enquanto os joelhos bambeiam ligeiramente e a cabeça
se esquece que os pulmões precisam de ar. Guardo
sobretudo o gosto, doce, e a sensação de tanto a dizer para tão
escasso dicionário.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
O tentar encontrar as
benditas palavras, um quiproquó. Disse tudo o que pude, ouvi tudo o
que ela se permitiu, mas eram sempre as palavras erradas. Como não
havia contorno, me calei. Me calei e ela se calou. E agora quando
palavras se fazem necessárias nos calamos juntas, por minutos
corridos e repetidas vezes. O quanto for necessário. Como se não
houvesse nada a dizer. Como se nos educássemos ao silêncio.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Resolvi tudo. Vivi tudo
que havia pendente ao viver. E agora o meu romance novo ficou velho.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Talvez por este ter
começado num abraço de despedida, ou pelas palavras inalcançadas
(ou inalcançáveis), mas não morre a sensação de que eu
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“sou, e talvez serei
sempre, o da mansarda,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ainda que não more
nela;</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Serei sempre <i>o
que não nasceu para isso;</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Serei sempre só o <i>que tinha qualidades;</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Serei sempre o que
esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta”</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Não existe porta.
Então decidi viver o novo enquanto o novo velho supura.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
E o que nos resta são
abraços de despedida sequenciados quase harmonicamente, onde a cada um, por alguns segundos, eu me
encontro e me perco nela.
</div>Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-34064409559541820832012-01-27T10:48:00.000-08:002012-01-27T10:51:11.924-08:00Fragmentos de postagem nunca terminada de 20/01/2012(...)<br /><br />Em 31 de outubro, dia das bruxas de 2011, a população mundial alcançou os 7 bilhões. Desde então tivemos que, mais uma vez, redefinir a nossa noção de problemas de <i>n</i> corpos. É que agora <i>n</i> tem que ser inteiro indo de 0 a mais ou menos 7 bilhões.<br />No século XIV, quando esse <i>n</i> era definido como menor ou igual a 225 milhões (sabe-se lá por quais critérios) a peste negra bubonicamente levou embora um terço desse tanto de gente. <br /><br />Devia ser mais fácil amar naquela época.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-88942042913233572792011-11-17T17:11:00.000-08:002011-11-17T17:16:12.036-08:00Cantoria de ÁrabeArrumei esse amigo. Desses que a gente arruma sem saber por que, ou onde, ou quando. O que ele tinha de diferente de todos os outros? Ele pirava mais que eu. Pode-se perguntar, querido leitor, ao que me refiro ao dizer “pirar”. Ele pirava com o tudo. E como pessoa que pira com tudo eu digo: é tudo mesmo cara, tudo. <br />Ele pirava mais com a física, com a falha miserável que o universo cometeu ao permitir a existência do ser humano, com o amor...<br /><br />A explicação que consegui pra isso (dele pirar mais...)? Viver dói, o velho clichê adolescente que todos nós conhecemos uma vez na vida e que alguns carregam vida adulta a fora. <br />Viver dói em mim, viver dói em você, mas viver sempre dói mais nele. Por que ele sabe levar o a flor da pele à sério de mais. Ele é uma ferida aberta e ele sabe carregar aquelas olheiras que gritam com você raivosas: Não importa o quanto você se importe com o significado da vida! Eu fui além! <br /><br />E então muitas vezes, como ontem, eu chego ao ápice da dor do cotidiano e eu não quero ver ninguém, falar com ninguém, me importar com ninguém, mas eu tenho que fazê-lo. Não sou mais um neandertal e o mínimo que esperam de mim é que eu saiba viver em sociedade. <br />Então eu cuspo marimbondos para todos os lados, já que marimbondos a sociedade moderna permite. <br />E depois de umas doze horas nesse ritmo enlouquecedor ele me questiona <br />“Você tá pirando, Julia seashell eyes?”<br />“sim, viver dói.” <br />“então para quê viver?”<br />“viver é não desistir e desistir é perder”<br />Então ele me cita Otto Mezzo e a ideia de que mais vale uma página em branco que uma obra incompleta. Deixando por fim a repetida questão “viver para que?”<br />E então me conta histórias. Histórias que não interessam aqui, mas que fazem quaisquer das minhas dores da existência fúteis, frívolas, inúteis. E só me resta a sensação de impotência. <br />E isso me toca. Me toca e me desespera. Busco pela velha âncora. <br />Onde estão as palavras? Penso em onde as perdi. Quando as perdi. Por que as perdi. Procuro-as no âmago. Encontro algumas. Imito-o e recito o otto e mezzo. <i>É sempre mais digno educar-se ao silêncio que calar-se pela eternidade. </i><br />Ele diz apensas “bonitas, as suas palavras”<br />Me dói novamente não ter outras. Ser só isso. <br />E eu estou exausta depois de um dia de piração. Tenho sono. Penso em ir dormir. Reflito sobre os pensamentos que meu amigo acaba de dividir. Sigo sua linha de pensamento. Penso em quão estranho seria o mundo se amanhã ele não mais existisse. <br />Durmo com receio. <br />Mas no dia seguinte, ele ainda existe. Sinto um alívio branco, límpido. Corro pelo DF. Faço as suas vontades mesmo que elas me levem a olhos que não quero encarar (olhos que doam).<br />É quinta-feira, e quinta-feira é dia de cantoria. A noite chega. Deixam à sua mão um violão e faz-se a mágica. <br />Ele é uma das pessoas mais tristes do mundo, mas ponham um violão em suas mãos e ele canta com uma alegria que jamais alcançarei e nem ouso almejar. É pura demais. Simples demais. <br />E eu sinto-me feliz por ele por que ele pira demais mas a sua alegria é muito mais genuína. E assim ele me dá um tom. Ele é o grave que me lembra exatamente onde se começa a afinação. <br />E se ele canta “cadê teu suin?”<br />eu respondo: “ele tá na vida”<br />então a gente deve continuar vivendo, certo? Por que é a única coisa que nos resta a fazer. <br />O show não pode parar.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-48583408677296293062011-08-30T21:39:00.000-07:002011-08-30T22:03:51.681-07:00Atualização de CadastroAtualização de Cadastro
<br />
<br />Conseguiu um diploma. Virou mestranda, ganhou um título, um cubículo e um contrato.
<br />Ganhou sete quilos, dois graus a mais de miopia, pinto ou cabelo de roxo e adora dizer que é pra combinar com os óculos vermelhos. Tentou raquetes, tentou correr, tentou a piscina, o boxe e o circo. Mas no fim ficou ainda mais sedentária. Trocou o all star por sapatos novos. Metal por música eletrônica. Permaneceu genuinamente estabanada e por isso ganhou algumas cicatrizes novas. Perdeu a dicção e de repente ficou sem tempo. É que de uma hora pra outra uma década pareceu passar rápido de mais. E pra lidar com o tempo, aprendeu a apreciar os ritos de passagem.
<br />
<br />Continua a não ter fé na humanidade mas briga com a própria consciência, o tempo todo, na esperança de estar errada. De vez enquando convence alguém de que não vale mesmo a pena nutrir tal fé. Se entristece por isso.
<br />Dualmente, pensa que não saberia viver sem eles. Seres humanos.
<br />
<br />Quando na escola, tinha certo medo de crianças menores reunidas em número alto. Medo que evoluiu pra pavor de massas em movimento. Não consegue andar em um shopping, por mais de dez minutos, sem se irritar profundamente. Aliás, de uma forma geral, <i>gente</i> a irrita. Se felicita nas exceções.
<br />
<br />Aprendeu a geometria, aritmética e astronomia. Abriu mão da gramática e da retórica pra isso. Só não aprendeu a música pra não perder a lógica.
<br />
<br />Tenta dormir oito horas por noite, ler no ônibus, passar menos horas ligada ao computador, acordar no mesmo horário, beber menos café... É pra ter rotina. Aprendeu a resolver tudo pelo período de oscilação da amostra e acha que a vida não funciona se não for nesse regime. Às vezes até queria ter disciplina militar, mas pensa que isso lhe toleria também a mente e, assim, logo desiste.
<br />
<br />Achou uma explicação científica à monogamia. É que problema de três corpos não tem solução analítica. Pra brindar isso, perdeu uma penca de chaves.
<br />
<br />Aprendeu a viajar de vez em quando. É Pra sentir saudade. Pra ficar feliz ao rever os belorizontinos nossos de cada dia quando voltar e com isso enganar a sensação de que não deveria estar aqui. Sensação não, certeza. Essa ela mantém. A de que está no lugar errado. E enquanto toda a geração acha que nasceu na época errada, ela acha só que nasceu no lugar errado, mesmo não tendo a mínima de ideia do que é o lugar certo, ou de onde ele seria. Aprendeu tudo o que pôde sobre o espaço-tempo e o espaço de Hilbert tal que é consciente de que é preciso preservar a norma e aceitar a não-simultaneidade das coisas.
<br />
<br />Desistiu de ir pro deserto, é muito quente. Mas iria tranquilamente pra antártica.
<br />
<br />Um dia, o qual ela deve ter narrado aqui, resolveu subir num tamborete e largar o coração lá de cima só pra ver se ele respeitava a queda livre ou tinha constante elástica. Ele não quicou, só rachou aqui e ali. Encucada, resolveu tentar jogá-lo novamente de algum lugar, dessa vez de cima da lage. De novo ele não quicou, mas soltou um pedaço. Isso a deixou assustada. Mas o pedaço encaixava mais ou menos no lugar de origem e com algum remendo parecia novo. Tentou de novo do segundo andar e dessa vez foram quatro pedaços. Foi aí que começaram a surgir ideias mirabolantes e perguntas que ela não consegue responder. Buscou torres, andaimes, penhascos, os prédios mais altos da cidade e até o topo de antenas. O caso é: os cacos são sempre grandes o suficiente pra poder juntar tudo de novo e seguir em frente. Só que algumas vezes eles são menores ou maiores que em outras. E foi pensando nisso que veio a pergunta e desde então ela não consegue tirá-la da cabeça. Em quantos pedaços é preciso parti-lo pra chegar à unidade essencial da matéria?
<br />
<br />Não sabe mais escrever. E só mesmo uma noite de insônia pra fazer ela vir aqui espantar as moscas.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-74039505253836272952011-02-27T08:25:00.001-08:002011-02-27T08:25:41.334-08:00Tô me guardando pra quando o carnaval passar.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-47296323796588860902010-10-07T20:02:00.000-07:002010-10-07T20:22:46.265-07:00A casualidade e o mundo pós apocalíptico.Não sei como faz.<br /><br />Não vou me prender aos clichês. Adoro usá-los como estilo em prosa, mas cá não servem mais. <br />Arrancaram-me um pedaço e <i>a priori</i> este não era fundamental. Era desses parafusos de segurança que vêm a mais nas máquinas e que, no frigir dos ovos, diferença alguma faz perdê-los. Tem gente que morre de amor e acha isso romântico. Não sou feita desse barro (acho que meu barro nem desse mundo é), ainda assim ao reler este post me sinto como um ultra-romântico autêntico e vindo direto do séc. XIX. Habito o espaço dos que pensam demais, refletem demais, delongam demais. Espaço no qual a maior declaração de amor possível é a não usual troca da reflexão interminável pelo viver. Sobrevivi à avalanche com a mesma displicência com que sobreviveria a um furacão e demais desastres naturais. Acaso mesmo só na posição geográfica. Parece que não tinha mesmo outro jeito. Ou era soterramento ou vida serena pra sempre e chato da Silva. <br /><br />*<br /><br />Em meio a tantos parafusos que pra nada serviam finalmente levaram-me um primordial. Parando pra pensar, não sei como fui deixá-lo bambo. Acho que simplesmente não me importava até que dei pela falta. Andava displicentemente pelo mundo e numa esquina dei de cara com o bendito parafuso. Incrível como é rápido o reconhecimento do que por natureza é seu. Bastou aquela faísca quase insignificante e eis que aumentou a entropia do universo (ou, sob uma visão bem astronômica, ocorreu o próprio BigBang e do absoluto nada surgiu o todo e ao todo só cabe – como direito de nascença, ignorar completamente a possível existência de qualquer coisa anterior). <br /><br />Apesar do vício por floreios, acho que reconheço bem os fatos. E o fato é: Serve bem, no outro, o parafuso levado. E na semiótica da vida, o passo é novo e constante. <br /><br />Seguindo os passos normais de alguém adulto, faço o teste e encaro o meu maior defeito: o pensar demais. Trunco os fatos, os embaralho, às vezes até os diminuo, mas nenhum procedimento pessimista padrão me permite encontrar o ponto falho que descolora as coisas. Os velhos empecilhos padrão de relacionamentos, como a diferença essencial e fatídica entre os dois seres só vêm nos transformar em primavera. E de lá pra cá, eu espero o amanhã chegar com muito mais vigor. Eu tenho muito mais paciência com <i>gente</i>. Eu fico mais feliz com a vida pelo que ela é. Eu consigo ter, até mesmo, fé na humanidade. Viver nunca pareceu tão certo.<br /><br />Meu subconsciente só não engole a casualidade. Sou grata a ela por sua manifestação existencial. A adoto como jargão. Mas ao tentar engoli-la, a assisto topar com o cientificismo e não conseguir passagem. <br /><br />O problema todo é que pela primeira vez na vida eu me senti caber em algum lugar. Mas e agora? Como posso continuar com a vida sabendo que existe tal lugar no mundo?Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-62202478979022659902010-05-20T22:51:00.000-07:002010-05-20T23:02:23.099-07:00O cara do crochê e da cachaçaExistiu um Jarbas alguma coisa no cenário político nacional no início do século passado, não existiu? Quando penso nesse nome lembro da era Getúlio Vargas. Tinha, ou não tinha um Jarbas no tal do PDT? <br /><br />Eis o caso de umas semanas atrás.<br />Estava eu na aula de Métodos em Física Teórica A . O professor é desses meio loucos. - Antes que alguém se atreva ao clichê “Mas pra virar Físico tem que ser louco”, ressalto: o professor é desses loucos, loucos mesmo. Eu arriscaria incluir à história remédios controlados e tudo o mais. - Não me lembro mais por que diabos, ele resolveu contar à classe sobre a única vez em que foi <i>expulso</i> de sala. Ainda era estudante de graduação e, durante uma aula, engajou-se numa disputa de piadas com um amigo. Era o amigo físico experimental e o tal professor físico matemático e disputavam quem contava a melhor piada ofendendo a especialidade do outro. O amigo ganhou e o meu professor riu tanto que foi expulso de sala.<br /><br />Eis a piada, que segue aqui com menos jeito para piadas que a versão oficial:<br /><br /><blockquote>Chegava o físico-matemático em casa após um árduo dia de trabalho, quando encontrou a mulher fazendo <i>tricô</i>. Bateu o olho naquilo e ficou fascinado. Usando duas agulhas, ela partia de um objeto unidimensional (linha) e o transformava, com um movimento bidimensional (pra frente pra trás), num objeto tridimensional (o ponto). Encabulou-se e começou a matutar. Perdeu a fome e não quis jantar com as crianças, ficou refletindo sobre o tal do tricô. Os outros problemas (importantes) com que vinha trabalhando foram deixados de lado, até que depois de uma semana de reflexão veio a solução. Triunfante, procurou a esposa e disse: <br />- Mulher! Fiquei pensando sobre esse tal tricô e finalmente consegui provar matematicamente que é possível fazer a exata mesma coisa usando uma agulha só.”<br />A esposa, achando graça, respondeu:<br />- É claro que tem, chama-se <i>crochê</i>.</blockquote><br /><br />A sala inteira riu. E, tirando-se o quê machista da piada (o qual diga-se de passagem depois de alguns anos de ICEx aprendi a categoricamente ignorar) a piada teve graça.<br /><br />Resolvi recontá-la a dois amigos (futuros físicos-matemáticos) desses que pensam que o bandejão fortalece o estômago e que formalismo matemático decente é coisa de macho.<br />Contei e eles não riram. Mas a piada tinha graça. Então um deles admitiu: “Não sei qual a diferença entre crochê e tricô”.<br />Perguntei: “Você não tem avó?”<br />...<br />Foi então que me lembrei dum sujeito, faltava lembrar o nome.<br />“Tinha aquele cara da física que era da nossa turma quando éramos calouros...”<br />“Que cara?”<br />“O que fazia crochê no DA...”<br />“Acho que lembro de alguma coisa assim... Era o mesmo cara que sabia falar 100 casas decimais do pi de cór?”<br />“Acho que era... Era um cara do Vale do Jequitinhonha, que teve um ataque cardíaco...”<br />“Aquele cara teve um ataque cardíaco?!”<br />“Teve, na véspera da nossa primeira prova de cálculo. Ele não veio fazer a prova, ninguém sabia o por que. O cara sumiu por uns dez dias e depois apareceu no DA com um galão de cachaça e um marca-passo amarrado no cinto.”<br />“O cara teve um ataque cardíaco e voltou com um galão de cachaça?”<br />“É, ele teve um ataque cardíaco, foi passar uns dias com a família no Vale do Jequitinhonha e voltou com cachaça de lá... Não lembra dele fazendo crochê no DA e tomando cachaça com café?”<br />“Claro que me lembro! Como é mesmo o nome do cara?”<br />“Não sei, mas acho que o apelido era Pedreiro”<br />“Ele tinha um nome de avô...”<br /><br />Nenhum dos dois conseguiu se lembrar. Fiquei encabulada. Resolvi passar no DA e ver se alguém se lembrava. Lembravam do Pedreiro pessoa, não do nome próprio dele. Foi preciso alguma insistência até que alguém finalmente disse:<br />“Era Jarbas!”<br /><br />Jarbas! Como poderia ter me esquecido de um nome desses?<br />Lembrado o nome fiquei rindo sozinha do sujeito por uns dias. Dividi a lembrança com algumas pessoas de meu convívio. Parece que ninguém sabe o que foi feito do cara. Uns tiveram notícias de prisão por uso de drogas. Outros mal se lembravam que ele existia o que é bem triste para alguém tão caricato. <br />Ao menos fica a anedota.<br />A qual talvez um dia eu conte aos meus netos. “No início do século, quando entrei pra faculdade tinha um sujeito na minha turma que fazia crochê, usava um marca-passo, tomava cachaça e recitava centenas de casas decimais do pi...”<br /><br />Dos vinte e poucos para os oitenta são quase sessenta anos. Talvez até lá já exista algum calouro de física que saiba os 2699999990000 conhecidos hoje de cór. <br />Talvez até lá o sistema universitário brasileiro tenha colapsado e “calouro” seja palavra em desuso.<br /><br />Será que meus netos saberão o que era um “marca-passo” ou eu terei que explicar?Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-19292234210640983272009-12-20T06:54:00.000-08:002009-12-20T07:11:50.749-08:00Things you should know about the cold1- Don't think you'll not feel cold just because your city just snow once in a century. Cold is cold, with or without snow.<br />2- If it’s about 50F don’t get out with an all star: your feet are going to freeze when the temperature arrives to 40F.<br />3- If you are going by bike don’t go with a wool jacket, the wind is a bad guy. Don’t go without a scarf and don’t forget your gloves. <br />Once again: the wind is a bad guy either for slow velocities as a bicycle.<br />4- If there is someone in the street with just a tshirt and a face of “I’m not feeling cold” ignore it. This person probably just arrived from Canada this morning.<br />Today is going to be under 40F? Bloody hell, why not snow at once? At least I have an excuse to stay at home ...<br /><br />Merry bloody cold Christmas for all you…Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-15534666388387896042009-12-09T16:30:00.000-08:002009-12-09T16:32:20.586-08:00Votação acerca do casamento Gay em NY<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/fcE09256HuA&hl=pt_BR&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/fcE09256HuA&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br />Em 2 de dezembro de 2009, um projeto de lei que autorizaria o casamento homossexual em Nova York foi derrubado no senado estadual, com 38 votos contra 24. Na ocasião, contudo, destacou-se por sua defesa a senadora Diane Savino, que votou à favor da proposta. (Legendado por @rafme, com a ajuda de @diguinhoo e @flaudio).Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-60000667122229070062009-11-04T11:17:00.000-08:002009-11-04T12:13:32.738-08:00Ground Control to Major Tom<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/7vj7wFdLXb8&hl=pt-br&fs=1&color1=0x5d1719&color2=0xcd311b"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/7vj7wFdLXb8&hl=pt-br&fs=1&color1=0x5d1719&color2=0xcd311b" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br />Música bonitinha do David Bowie.<br /><br />Observação um para os efeitos especiais do clipe.<br />Observação dois para a peculiar feiura do David Bowie.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-89788470282193487352009-04-02T03:27:00.001-07:002009-04-02T03:27:56.232-07:00A melhor imagem de todos os tempos da última semana<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.bbc.co.uk/worldservice/assets/images/2009/04/090402085201_lularainha226vert.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 226px; height: 261px;" src="http://www.bbc.co.uk/worldservice/assets/images/2009/04/090402085201_lularainha226vert.jpg" border="0" alt="" /></a>Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-35305635014769435202008-12-21T15:19:00.000-08:002008-12-21T15:21:29.133-08:00Early ThursdayI can't remember the first time I saw a beach. I'd just made one year, my mother had just become a widow. We went to Fortaleza. I can't remember the feeling. Maybe fascination. Probably fear. That isn't something I can describe without having consciously lived. <br />Besides I could now describe in exactly words a castaway's sensation when he first saw a beach after a long time lost in the ocean. Whirlwind of butterflies in my stomach. Warm sensation in my heart. Unmistakable sensation that - I should have imagined – no one else could cause me. Like find your place in a strange world. Like be in home. <br />So I thought “Everything is gonna be all right” and I felt happiness.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-1906428710018238192008-12-13T07:02:00.000-08:002008-12-13T07:28:46.607-08:00Elephant Gun<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/N-mqhkuOF7s&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/N-mqhkuOF7s&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br />If I was young, I'd flee this town<br />I'd bury my dreams underground<br />As did I, we drink to die, we drink tonight<br /><br />Far from home, elephant gun<br />Let's take them down one by one<br />We'll lay it down, it's not been found, it's not around<br /><br />Let the seasons begin - it rolls right on<br />Let the seasons begin - take the big king down<br /><br />Let the seasons begin - it rolls right on<br />Let the seasons begin - take the big king down<br /><br />And it rips through the silence of our camp at night<br />And it rips through the night<br /><br />And it rips through the silence of our camp at night<br />And it rips through the silence, all that is left is all that i hide<br /><br /><a href="http://beirutband.com/">Beirut</a>Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-72536927702634406712008-12-10T18:09:00.001-08:002008-12-10T18:09:29.850-08:00Capitu tinha olhos de ressaca.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-17912098714441783402008-12-05T05:12:00.000-08:002008-12-05T05:31:00.295-08:00Paranóia de Físico"Julia, essa boate tem lasers verdes."<br />"Sim, são bonitinhos."<br />"Não, ele pode nos deixar cegos!"<br />"É um laser de boate, a potência dele deve ser baixíssima..."<br />"Mas lasers verdes têm freqüência muito alta, assim, mesmo pra uma potência baixa ele é mais intenso que os de cores normais."<br />"Não é como se fosse um laser de argônio do laboratório... não deve ser perigoso."<br />"Desculpa, eu não confio na capacidade dos donos daqui de avaliar se um laser é perigoso ou não."<br />"Não é sobre os donos, é sobre o fabricante. O cara não venderia um laser que pode deixar alguém cego! Sério, alguma vez já ouviu contar sobre alguém que ficou cego com um laser de boate?"<br />"Sim, com um laser verde."<br />"Bah, como assim? Aposto que a fonte dessa notícia era escusa"<br />"Não, eu li sobre isso no site da bbc. Aconteceu na Russia."<br />"E você vai deixar de dançar porque tá com medo de ficar cego com o laser?"<br />"Não, mas eu só danço se for de costas pra ele."<br /><br /><br /><br /><br />Juro que o fato de eu ter passado a maior parte do resto da noite dançando de olhos fechados não teve a ver com esse diálogo.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-80842401661022433582008-11-26T15:56:00.001-08:002008-11-26T15:57:17.116-08:00Hunter<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/0J3ePQZ84oY&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/0J3ePQZ84oY&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-34528646461147137972008-10-18T14:07:00.000-07:002008-10-19T14:11:24.535-07:00O grande problema de se tornar uma estudando de física antes de se ter a maturidade do 'um quinto de século' é que noções de tempo e espaço se tornam relativas e distorcidas.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4915775880821843115.post-74784778043615933412008-10-13T14:28:00.001-07:002008-10-13T14:28:52.227-07:00As cigarras não parecem dispostas a se cansarem nesta primavera. Nem assim vejo formigas trabalhando. Minha planta carnívora passa fome. Meu tímpano entra em pânico. Talvez o mundo acabe amanhã. A lua é cheia. Uma cigarra recém saída de seu repouso de dezenove anos atravessa a rua. Se na imensidão do universo vazio viajasse um som, seria este. Assobio de único tom. Sinto falta de algum vício. A melancolia me enjoa. Sinto ânsia de vômito diversas vezes ao dia e nem assim ela vai embora.<br />Caminha pela avenida central. Referencial é o maior problema da humanidade. Desta forma, a avenida pode possuir palmeiras, paralelepípedos e menos de meio quilômetro de extensão e mesmo assim é considerada principal. Caminha pela avenida central sob o som incessável das cigarras. Música capaz de ampliar qualquer tpm. Alcança a porta principal. Vira a esquina. Olha o ponto onde num dia que não é hoje e nem foi ontem dezenas de pessoa a olharam ou olharão. Segue seu caminho. O som das cigarras cessa. Não há mais árvores, não há mais cigarras. Ao invés disso o barulho infernal de uma das principais avenidas da cidade às dez horas da manhã. No boteco da esquina meia dúzia de pessoas já bebem. Motivo para comemorar? Mágoas a lamentar? Sinto falta de algum vício.<br />Corre. Ri. Faz piadas. Dorme. Acorda. Come. Chora. Espera demais das pessoas. Menospreza. Tenta dançar. Tenta importar. Tenta buscar. Mas não encontra nada que apeteça. Nem mesmo um café ou um rock legal.<br />Inércia.Julia Roquettehttp://www.blogger.com/profile/11730374875625038840noreply@blogger.com1