sexta-feira, 16 de março de 2007


Vamos brincar de ser ficção. Calcular erros, que não são mais erros já que os filmes que assistíamos estão ultrapassados. Calcule agora a incerteza. Já não é mais moda errar; brilha quem é incerto.

Talvez um ser dotado de vida inteligente, em uma outra galáxia, tenha recebido através de ondas de rádio o tal do Pi em código binário e, desde então, gargalhando, nos assista e ele provavelmente concorda comigo: Hoje tudo é circo e todo mundo se diz palhaço. Porquanto palhaços e circos de verdade assentaram-se num boteco copo-sujo e, desde então, estão a encher a cara por não terem mais lugar nesse recinto circular, coberto, cercado de lona, todo desmontável, onde se realizam espetáculos de malabarismo e hoje em dia conta com um ¿não sei o que moderno¿ desenfreado.

Moças cegas nunca mais sorrirão ao receber flores que elas nem mesmo possam ver. Os livros que talvez eu nunca leia e os filmes que continuarão passando e passando. E passando. Já que passar é aparentemente a única coisa que há para se fazer.

Acabará então na estante, como tudo o mais ¿ e os livros nunca lidos e os filmes já passados -, antes que vire pó; já que tudo ou vira pó, ou se enche de pó.

Vamos demitir todos os vocalistas e então tudo será balé. ¿ Quem precisa de letra? - Que se explodam (ignorando a ausência do presente do subjuntivo para este verbo) as demais línguas. Já que as pessoas não falam mais inglês na aula de inglês e eu estou aqui falando grego.
Vamos brincar de aportuguesar as palavras e cuspir afirmações absurdas. Descobrir garotos nerds ao inverso. Num mundo onde todo bambambã domina a informática, ser um cara que não sabe sequer abrir a calculadora do windows ou minimizar uma janela.

Que graça há, afinal, em ser ou não ser? Provavelmente não foi Shakespeare o maior comediante dos últimos séculos, por mais que afirmar isso contradiga a retórica. Melhor parar de carnavalizar a vida e começar a lustrar a estante onde um dia se acabará. Aquela mesma onde estão palhaços e circos em coma alcoólico; e, é claro, um trágico transfigurado em comediante. Enquanto procura a própria estante, seus pés pisarão num carpete pardo e empoeirado que abafa o som dos seus passos e haverá um silêncio suspenso que não é nem de vitória nem de derrota, já que ele não sabe ser ou não ser e é apenas um silêncio. Perplexo, irresoluto, indeciso. Mais um do que as outras duas, mesmo as três significando resumidamente a mesma coisa.
Vamos não ser, mas também não não ser. Vamos ser o que então?
No fim das contas comédia não é tragédia somada ao tempo. Foi só mais uma mentira que lhe contaram, ou uma ilusão que lhe embutiram. Já que você pode ter treze anos e achar que é o lindo centro do mundo. Ou pode ser só mais um cara que erroneamente ficou afim de mim. A única coisa em comum é que olharei para ambos com olhos de pura fleuma e os dois continuarão achando que os levo a sério. Mas eu sou só alguém que queria fazer circo. E eu só penso em dormir.

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