domingo, 13 de agosto de 2006
Um monólogo por Rei Ayanami
Montanhas, pesadas são as montanhas
Mas há mudanças
Azul, céu azul
Algo que os olhos não vêem.
Algo que se pode ver.
O sol, algo que é único.
Água, algo que é agradável.
(...)
Flores, tantas iguais, tantas sem razão de ser.
Céu.
Vermelho.
Céu vermelho.
A cor vermelha, cor que eu odeio
O líquido flui. Sangue.
Um cheiro de sangue
Uma mulher que nunca sangra.
Da terra vermelha vêm os humanos.
Humanos feitos por homem e mulher.
Cidade.
Uma criação humana.
(...)
O que são os humanos?
São criações de Deus?
Humanos são aqueles criados por humanos.
Isto é o que é meu:
Minha vida, meu coração.
Sou o vaso de meus pensamentos.
A escotilha de entrada, o trono da alma.
Quem é esta?
Esta sou eu.
Quem sou eu?
O que sou eu?
O que sou eu?
O que sou eu?
O que sou eu?
Eu sou eu.
Esse objeto sou eu
Isto que forma sou eu.
Esse é o ser que pode ser visto.
E ainda assim sente que não sou eu.
Uma sensação estranha.
Parece que meu corpo se derrete
Não posso mais me ver.
Minha forma desaparece de vista.
Aparece alguém que não sou eu.
Quem está aí?
(...)
Alguém que eu conheço?
(...)
Quem esta aí?
Quem é você?
Quem é você?
Quem é você?
quinta-feira, 3 de agosto de 2006
Pequeno ensaio sobre O Que Seria de Nós Sem as Coisas Que Não Existem
A única coisa que realmente existe é a existência.
Existimos antes de nascer, como quimera.
Existimos ao nascer, como matéria e sonho realizado.
Existimos na infância, como jóia rara e quebrável.
Existimos durante a vida, como ilustração da alomorfia.
Existimos ao perecer, como matéria morta e lembrança.
Existimos pela eternidade, como idéia.
Existimos como os restos de um chapéu que não deu certo.
Existimos até que caiamos no desuso e encontremos o esquecimento.
A princípio existe uma porção de perguntas.
O que é a existência?! O que é uma coisa?! O que é o nada?! O que somos nós?!
A existência de um dicionário da língua portuguesa torna o significado de coisa o início mais provável na busca de respostas.
Você sabe o que é coisa?
Coisa é aquilo que existe ou pode existir; um objeto inanimado; uma realidade ou um fato; um negócio ou um interesse; um empreendimento ou uma empresa; um acontecimento ou uma ocorrência; um caso, um assunto ou uma matéria; uma causa ou um motivo; um mistério ou um enigma; os órgãos sexuais sejam de animais ou plantas; um troço, uma doença, uma indisposição ou um mal estar; um baseado, uma porção de droga ou o próprio diabo; uma sensação; as posses de uma pessoa; um sentimento ou uma idéia. Coisa pode ser qualquer coisa.
Ressona tão complexo que seria digno existir a Ciência da Existência, onde a principal constante seria a relatividade. Uma ciência tão pessoal e singular quanto os pensamentos mais âmagos das pessoas. Apenas uma característica coincidiria a todos: a taxonomia maquiavelista separando as coisas que existem das coisas que não existem.
As coisas que existem são todas aquelas que passaram através do filtro do racionalismo. São tocáveis, compreensíveis, avaliáveis e de forma alguma são frutos da imaginação. São explicáveis através de números e teoremas e definidas por enciclopédias e dicionários.
As coisas que não existem se dividem entre o desconhecido, a fantasia e os paradigmas.
O desconhecido existe como o impulso à vida dos curiosos. Em certo instante da existência, o desconhecido torna-se a razão do ser, o combustível da sabedoria.
A fantasia existe como a mais chistosa forma de felicidade. A doce irrealidade a reger a vida dos sonhadores.
Os paradigmas existem para limitar e alienar a existência. Como protótipo dele, existe a utópica busca pela perfeição inexistente. Provém da crença no empirismo pautado e do massacre da liberdade do ser.
Na Ciência da Existência a única teoria comprovada seria a ausência de um limite claro e cabível entre os pólos. Assim, não existindo princípio ou fim entre o que existe e o que não existe, propor-se-ia uma nova questão intitulada O Que Seria de Nós Sem As Coisas Que Não Existem.