segunda-feira, 1 de maio de 2006

Certa vez ouvi alguém dizer que coincidências não acontecem.
Lembro da primeira vez que a vi. Era uma criança. Sim, uma criança que queria ser adulta. As garotas que me acompanhavam naquela tarde de abril apertaram-lhe as bochechas e disseram que ela ficaria muito bonita quando crescesse. Sim, ela ficaria.
Tinha menos que treze anos na época, como disse, era uma criança. Eu tinha pouco mais que meus quinze. Creio que tudo aconteceu na mesma época em que comecei a publicar textos por aqui. Era uma garota nerd que havia acabado de ser aprovada no Cefet no meio de um bando de garotas espalhafatosas. Ela era a menina que me olhava de modo estranho e talvez desejasse ficar grande logo e se tornar alguém bem menos nerd, certinho e quadrado que eu.
Depois de três semanas nunca mais a vi e tão ocupada eu estava, com a minha vida, que estaria mentindo se dissesse que sequer pensei que nunca mais a veria.
Um ano depois, o meu mundo já havia caído, eu me encontrava na rua de uma amiga a acompanhando até a casa de uma garota de poucos neurônios. Chegamos, assentamo-nos na cama da garota. Havia mais gente lá. Em boa parte gente conhecida. Me ofereceram um cigarro que eu recusei explicando que não fumava. Alguém fez um comentário sobre esse meu eu politicamente correto. Elogiaram a minha bermuda e o meu cinto de rebites. Havia uma garota deitada no colo de uma garota conhecida. Seu rosto me lembrava alguém.
Reclamávamos de nossas vidas. Perguntaram-me sobre o namoro. Contei sobre as catástrofes. Compartilhávamos nossas infantis experiências enquanto eu segurava os espirros em meio aquela fumaça. E aquela garota que me lembrava alguém.
Foi quando lembrei. Perguntei se era ela mesma. Ela disse que também lembrava de mim e admitiu estar surpresa com o meu posicionamento a cerca do assunto vigente. Disse que nunca pensaria que aquela nerd que ela conhecera poderia ser alguém como eu.
Há um ano atrás, naquela mesma tarde, soube que ela namorava um cara que era como o príncipe encantado num cavalo branco no meio de um sonho cor de rosa. Ele cuidava dela e era o melhor que ela poderia querer. Não a posso censurar por esta pequena ilusão. Eu também possuía sonhos bastante quiméricos naquela tarde. Sonhos em que ao me tornar maior de idade tentaria engenharia em Campinas e iria juntar-me a alguém. Sonhos que não são mais sonhados.
Ironicamente ela estava comigo no show em que meus sonhos foram por água a baixo. Estava comigo, porém indiferente já que obviamente ela sumiria da minha vida nas semanas seguintes por uma segunda vez.
Coincidências não acontecem. Assim pode-se afirmar que uma pessoa aparecer em sua vida por uma terceira vez não é coisa do acaso. Pois ela voltou. Em uma tarde em que eu sofria por alguém nos encontramos. Ironicamente sofríamos da mesma síndrome. Ela me contava que seu príncipe encantado agora brincava de tempo. E que ela estava cansada disso. Ela tomou sua decisão e inspirada nela tomei a minha. E quando dei por mim, ela queria me ver e eu queria vê-la. Ela queria me levar para sair e eu a levei para sair comigo.
Não me perco mais pensando no que poderia ter sido depois daquela terça feira 27 de Dezembro. Lembro-me das palavras que disse a ela, uma semana depois, quando ela disse que o príncipe encantado estava de volta, mas que ela não queria que eu fosse embora.
De uma forma ou de outra não fui. E hoje me preocupo com ela tanto quanto uma irmã se preocupa com a sua caçula. Às vezes eu até falo tanto em sua cabeça quanto uma irmã mais velha faria. Mas é que o príncipe encantado virou o autêntico lobo mau e só ela parece não perceber.
E desde que um conto de fadas se virou em outro, João e o pé de feijão plantou uma sementinha mágica de coca e fez crescer uma torre de babel. E não vou dizer se ele encontrou ou não um gigante lá em cima já que duvido que ela tenha sequer chegado ao topo...
Houve uma época em que acreditava que coincidências aconteciam. Naquela época eu sonhava que o tempo passasse logo enquanto esperava um ônibus chegar não para tomá-lo. Hoje eu espero que um ônibus diferente chegue enquanto sonho que Babilônia deixe de ser babilônia.

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