sábado, 11 de fevereiro de 2006

Pequeno e frágil e ponto.
Complexo, onde complexidade é um motivo de atração. Difícil. Não difuso. Não prolixo. Não tudo o mais. Parece puro e límpido, mas desesperadamente intocável, improvável, inalcançável e todos os "ins" mais. Observa-se. Pensa-se sobre. Desespera-se. Indaga-se. E nunca saberá o que mais há para se fazer.
Julga-se validável.
Mas sabe-se lá...


O poema não tem a ver com esse post mínimo. É um poema que recitei a alguém hoje. Eu e a minha mania de recitar poemas a pessoas que não os entenderão. Pobres dos poetas incompreendidos.


Quase
[Mário de Sá Carneiro]

Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d'espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

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Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...



Repetindo o feito do último post falo um pouco do Poeta, já que suspeito que poucos o conhecerão. Gosto do Pessoa. Fernando Pessoa. Aquele cara que criou três personagens (Heterônimos) com idéias e vidas diferentes e que tinham cada um seu estilo. O meu predileto é o Álvaro Campos (Sim, o pessimista). Pois nas minhas leituras de poemas do Pessoa acabei me deparando com um Modernista Português ¿colega de guerra¿ dele. Eis Mário de Sá Carneiro.



Não muito mais o que escrever por hora. Em breve quem sabe, outra primavera nasça por aí. Por hora resumo-me a isto e nada mais.


Terça Feira, Estado de Minas, Caderno D+, última página: A Crônica do dia 11.01. Ignorem a foto, por favor.

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