sábado, 27 de agosto de 2005

O tempo, o tempo passa.
Os cabelos estão agora mais longos. Tão longos que contradizem o que o Bandeira dizia e dariam sim uma viçosa trança na qual eu me enforcaria.
Cultivou-se o hábito de fazer as unhas. O rosa foi trocado.
A velha e infantil cor predileta trocada pelo tão fascinante vermelho.
O nome, ele continua o mesmo.
Ganham-se algumas cicatrizes. Algumas visíveis, outras nem tanto.
Muda-se o gosto. Passa-se do rápido para o lento. Do lento para o rápido.
Modifica-se a voz. Torna-a rouca, grossa, serena. Ou não. Permanece a mesma. Aguda.
Os óculos mudam. Se não eram usados, agora são. Aumenta-se o grau.
As velhas piadas perdem a graça. As gírias caem em desuso. Surgem novas, gírias e piadas. Tornam-se velhas. Também se vão.
Hoje gosta-se disso. Amanhã já não quer mais. Ou quer, mas sempre se quer mais ao novo do que se quer ao velho. Às vezes o novo se torna velho e volta-se então ao velho de outrora. Às vezes larga-se os dois.
Busca-se o fascínio. O enlevo da vida. O arroubo do tempo, que é simplesmente passar.
Luta-se contra ele com a máxima força que se tem. Jura que será eterno. Subestima-se a força que tem o ¿um dia após o outro¿. E no final se entrega. E pensa que aprendeu a lição. Mas não aprende. Nunca aprende. Porque no caso, a vitória não está em aprender. Mas em errar de novo. Repetidas vezes. Até que não se saiba mais errar. E, assim, sem um escopo na vida, abdique dela.
E o tempo, o tempo passa.
E de resto é só o silêncio...
(24/08/05)

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