sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Soneto torto e sem métrica de amor do ano velho

Acha que sofrer é amar demais e por seu engano sou eu quem sofre a mais.
Está sempre a dizer que tem certeza das coisas,
e me recita discursos ensaiados defronte ao espelho.
Discursos de camaleão recheados de certezas de areia.
Areia movediça.
Nela me afogo e nela ela se afoga;
enquanto me debato, tento puxá-la pra superfície;
enquanto se debate, ela me puxa para baixo.
Chego a me perguntar onde é o fundo,
ensaiando no fundo encontrar um fim.
Nunca amei ninguém ao ponto de alcançar o fundo.
Nunca amei ninguém ao ponto de querer que o fundo chegasse logo.
Nunca amei ninguém ao ponto de doer – tanto – antes.
Nunca amei ninguém tão barroco.

*
Tenho um subconsciente de olhos não-míopes que a enxergou antes de mim.
Transitava pelos mesmos corredores, vivendo à sombra do mesmo mundo.
Enquanto na dimensão ao lado, feito em dança num salão,
nossas sombras já se reconheciam,
estendi minha mão para alcança-la na dimensão que me cabia,
pela simples e curiosa razão de não haver por que não fazê-lo.
Era tão certa e tão bela, que faltou-me fibra aos joelhos para correr
quando ela se desfez-se em milhões de pedaços feito vidro temperado.
Como uma criança ao se ver perdida na cena de um crime,
tentei juntar os cacos e restituir sua beleza,
cortei os dedos, e ao tentar suturá-los
embolei-me até os cabelos em uma linha de remendar falácias.
Pago o preço por esperar sozinha no escuro por mais tempo que adequado,
Pois uma vez que se ouve um passo e falta ar - a entropia aumenta - não há caminho de volta.

*

Desafio minha razão só pelo sabor que tem
o quase provar a si mesmo que se está errado,
mesmo sabendo que se está certo.
Tenho andado pelo mundo me transformando em flores,
jogando meu coração ao vento só pra ver se existe alguém capaz de pega-lo.
Mas meu coração se tornou tão arisco quanto o gostar dela por mim;
E se faço bússola do meu coração, o coração dela é ímã
A levar-me de volta à dor que reside em tê-la em meu braços
Sob a premissa de vê-la refazer seus velhos discursos de areia na manhã que virá.
“Se existem forças que não podem ser paradas,
não podem existir coisas que não possam ser movidas.” - Grita
meu inconsciente melodiosamente como quem repete um mantra
para preencher as horas que faltam pro ano terminar.
Espero que a vida a ensine a partir, para eu então ensina-la a ficar.