Querida Grande Mãe Vaca,
Faz tempo que não lhe escrevo.
Na verdade, desde que nos encontramos no grande caldo primordial, onde tudo que era vida residia.
Falava-me da velha deusa Nut, sempre a segurar o céu inteiro em suas costas.
Olho pro céu e não a vejo mais. Provavelmente tornou-se alérgica por culpa da poluição em excesso; Aposentou-se do serviço pesado e foi viver o resto da vida numa praia deserta. Talvez esteja agora em Jericoacoara comendo caranguejos e assistindo o pôr do sol no meio da pedra furada.
Olho para baixo e não existe mais chão.
Olho pro palco e tudo que vejo são franceses pelados.
Às vezes até tento olhar para mim mesma. Sempre encontro aqueles olhos
Infocati.
Então havia a lenda da peça de teatro do outro dia.
Diz que quando se vê alguém pela primeira vez e o chão estremece, é que nasceu um peixe vermelho no centro da Terra. E sempre que o chão volta a tremer é o tal do peixe passando por ali. Até que um dia ele vira pedra.
Antes virar pedra que ser trocada por um grande pai virgem que se masturba. Siryu não pensava assim. Preferiu furar os próprios olhos à virar pedra como todos os outros.
A noite, grande Mãe Vaca, a noite é a sua hegemonia. És virgem do apego humano simplesmente por não o conhecer. Não precisa nem mudar de casa, ou praticar rituais.
Você tem sorte, Grande Mãe Vaca. Ès eterna e implacável e como a noite, que é sua, não precisa fazer escolhas e somente existe.
Eu, por minha vez, escolho a cosmogamia.