Ontem desenterrei registros em sites de Penpal. Afinal a melhor maneira de aprender uma nova língua é se forçar a usa-la. Depois de muitos perfis abandonados larguei a empreitada e danei a pensar. Vivemos, fingimos existir e tudo o que resta é lixo.
Seguindo a linha, lembrei da história do lixo espacial publicada no jornal cerca de um mês e meio atrás. O que fazer com tanta coisa inutilizada lá fora? Findei a empreitada do Penpal italiano pensando na quantidade de perfis em sites de relacionamento, blogs, fotologs, e-mails, icqs e msns abandonados que populam a rede.
Quem foram todas aquelas pessoas? Quantas eram reais? Quantas fingiam ser? Quantos diziam a verdade?
Pensei então na minha adolescência não tão distante. No meu eu internauta de quinze anos de idade, como bom nascido no final da década de oitenta. Fiz o que tinha que fazer e existi como informação. E o que resta agora? FanFictions publicadas que, absurdamente, até hoje prevalecem em primeiro lugar; posts mal escritos, publicados neste mesmo blog; comentários insolentes, inconseqüentes e imaturos em fóruns de discussão. Teorias, teorias, teorias. O que diz todo esse lixo deixado pra trás acerca de mim? Diz, todo o lixo com que esbarramos diariamente na internet, alguma coisa a respeito de alguém?
É uma problemática similar à proposta por Carl Sagan em Contato. E se, anos e anos luz longe daqui, algum tipo de vida inteligente, até então não comunicante, encontrar um vestígio deste mundo de informação... então todo o lixo virtual, afinal, é a melhor descrição possível da humanidade.
Tenho pra mim que quando se pensa em alguma coisa não pensada há muito tempo, é hora olhar para trás e começar um balanço. É algo como sentir saudades aleatórias de alguém e informa-lo disso. Me informaram, e foi a minha vez de passar para frente. Fui transmiti-las, as saudades aleatórias, e divagar sobre as madrugadas. Sempre como levar um tapa na cara o saber que algo foi mais para alguém do que você imaginava. Descobrir que se deve mais passados que se pode calcular. Pensar em tudo o que deveria ter sido vivido e não foi. Quão cedo e quão tarde pode ser a vida? Quantas viagens podem ainda ser feitas? Quantos bits merecem ser convertidos em carne e osso? Quantos beijos sonhados, roubados, pagos?
O tal do endereço continua anotado, na primeira página de um caderninho. Poderia mesmo alguém reconhecer-te numa construção?
Essa coisa toda de estar só me faz pensar em mim mesma. É bom lembrar sobre tudo aquilo que só pode ser encontrado em si. É bom certificar-se que continua tudo ali.
E isso tudo sempre me remete à Los Hermanos. Sinto-me uma verdadeira Casa Pré-Fabricada com um Retrato Pra Iaiá na parede.
pagamento
-
Eu preciso
escrever um poema,
um pagamento.
Mas
não tem problema.
Eu, às vezes,
vendo minha dor,
da minha veia de ator,
pois só me resta essa cena.
Mas ser...
Há um dia